A menina de Dikika
«A menina de Dikika fornece pistas sobre a forma como se esbateram as diferenças entre macacos e humanos.»
Há muito que as florestas pré-históricas de Dikika (Etiópia) desapareceram e, no dia 10 de Dezembro de 2000, os membros de uma equipa de investigação decidiram voltar a explorar o local sob um sol escaldante. Tilahun Gebreselassie foi o primeiro a observar o minúsculo rosto da menina de Dikika.
Dikika é uma menina de 3 anos, pequeno hominídeo, que passou 3,3 milhões de anos encarcerada em arenito, até que cientistas etíopes descobriram os seus restos mortais.
Embora não se saiba como morreu a bebé de Dikika, supõe-se que o rio deve ter enterrado rapidamente o corpo debaixo de seixos e areia, protegendo-o dos necrófagos e do clima, antes de o endurecer gradualmente, transformando-o em pedra. O que trouxe várias recompensas ao nível das descobertas científicas.
A bebé é um dos melhores fósseis da sua espécie, o Australopithecus afarensis. Pertence à mesma espécie do fóssil Lucy, uma fêmea adulta com quase 3,2 milhões de anos encontrada em 1974. Ao contrário de Lucy, possui os dedos da mão, um pé e um tronco completo. Mais impressionante é o facto de ter rosto.
Este pequeno hominídeo fornece pistas sobre a forma como se esbateram as diferenças entre macacos e humanos: o formato dos seus ombros pode ainda assemelhar-se ao de um gorila jovem, contudo o ângulo que o fémur forma entre o joelho e a bacia é parecido com o de um ser humano moderno, sugerindo uma postura bípede eficiente. Podem também ser ainda observados na bebé um conjunto completo de dentes de leite e a dentição definitiva inclusa; todas as suas minúsculas costelas que se encontram posicionadas ao longo de uma sinuosa coluna dorsal, e no sítio onde outrora estivera a garganta, encontrava-se um raro exemplar de osso hióide, osso mais tarde crucial para a fala humana. Um dos joelhos, semelhante aos humanos, apresentava-se completo, com uma rótula do tamanho de uma ervilha. A parte superior do corpo apresentava muitas características dos símios: cérebro pequeno, nariz achatado como o de um chimpanzé e rosto longo e projectado para a frente.
O fóssil de Dikika também sugere a possibilidade de o desenvolvimento cerebral já ter então começado a tornar-se mais lento, o que, ao longo da evolução humana, conduziu ao período de dependência prolongado, a infância. Posto isto, os especialistas concluem que a menina de Dikika se encontrava no início desta fase singular da vida humana.
«A bebé possui os dedos da mão, um pé e um tronco completo. Mais impressionante ainda é o facto de ter rosto.»
«...viveu na infância da humanidade.»
«...viveu na infância da humanidade.»
[Texto Adaptado da revista National Geographic de Nov.06]
[Débora Ramalho]
[Débora Ramalho]
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