segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Literatura de Angola

É na segunda metade do século XIX que surgem textos de alguns escritores. Estes não podem ser genericamente catalogados de autores de literatura colonial. A literatura angolana desta época apresenta duas facetas: se, por um lado, mostra a realidade, de forma coerente, do universo africano, por outro enjeitam a exaltação do homem branco.
O mais remoto destes escritores é José da Silva Maia Ferreira, que marca o início da literatura angolana de língua portuguesa. Nesta temos uma poesia onde se destacam temas como o amor, a amizade, a fraternidade, a nostalgia e um certo enlevo rústico ou paisagista.
Após a independência, em 1975, são feitas tentativas, falhadas, para despertar o gosto pela leitura no seio da população, estimulando-o com grandes edições de livros, que eram vendidos a preços reduzidos. Para todos os efeitos, os escritores continuaram a escrever, sendo obrigados, na maior parte das vezes, a publicar as suas obras noutros países.
Na literatura angolana surgem-nos nomes como Ana Paula Ribeiro Tavares (“Ritos de Passagem”, em 1985; “O Sangue da Buganvília”, em 1998; “O Lago da Lua”, em 1999; “Dizes-me coisas amargas como os frutos”, em 2001), Arlindo Barbeiros (“Angola Angolê Angolema”, em 1975; “Nzoji – Sonho”, em 1979; “Fiapos de Sonho”, em 1990; “Na Leveza do Luar Crescente”, em 1998), José Eduardo Agualusa (“A Conjura”, em 1989; “O Coração dos Bosques”, em 1991; “A Feira dos Assombrados”, em 1992; “Estação das Chuvas”, em 1996; “Fronteiras Perdidas, Contos para Viajar”, em 1999; “O Ano em que Zumbi Tomou o Rio”, em 2003; “O Vendedor de Passados”, em 2004), José Luandino Vieira (“Luuanda”, em 1963; “Velhas Estórias”, em 1974; “Vidas Novas”, em 1975; “Lourentinho, dona Antónia de Sousa Neto e eu”, em 1981), Viriato Clemente da Cruz (“Poemas”, em 1961. Entre os seus textos poéticos, destacam-se “Namoro”, “Sô Santo” e “Makézu”).
Destaque

Nome: Pepetela, pseudónimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos.
Naturalidade: Benguela, província situada a sul de Angola.
Profissão: Professor de Sociologia na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e escritor.
Prémios: Em 1997, ganhou o Prémio Camões, o maior prémio da literatura de língua portuguesa.
Obras: Destacou-se como escritor na década de 60 ao escrever o livro de ficção “Mayombe”, onde apresenta as primeiras contradições internas da guerrilha em Angola; “Yaka” (1985), “A Geração da Utopia” (1994), “O Desejo da Kianda” (1995), “A Gloriosa Família” (1997), “Jaime Bunda, o Agente Secreto” (2001).
[Bruno F. Moutinho]
Literatura de São Tomé e Príncipe

Aevolução social de São Tomé e Príncipe teria sido paralela à de Cabo Verde mas, em meados do século XIX, com a implantação do sistema de monocultura, a burguesia negra e mestiça é violentamente substituída pelos monopólios portugueses. Tal acontecimento é expresso pela poesia, apesar da sua essência ser genuinamente africana.
Devido à ausência de uma revista literária, de uma actividade cultural própria, de uma imprensa significativa e de uma escola com quadros literários do Arquipélago, apenas em Portugal foi encontrado o ambiente propício à revelação de potencialidades criadoras. O primeiro caso surge em 1916, ano em que Caetano da Costa Alegre publica a sua obra “Versos”. Esta exprime a situação desencantada do homem negro numa cidade europeia. Outro poeta importante é Francisco José Tenreiro que, em 1943, publica “Ilha de nome santo”. Este identifica-se com a dor do homem negro e repõe-no no quadro que lhe cabe da sabedoria universal.
A narrativa de São Tomé e Príncipe é, de certa forma, modesta. As esporádicas experiências de Viana de Almeida (“Maiá Pòçon”, contos publicados em 1937) e de Mário Domingues (“O Menino entre Gigantes”, publicado em 1960) não chegam a ser uma contribuição relevante.
Outro autor também reconhecido é Albertino Bragança com a obra “Rosa do Riboque e Outros Contos”.
[Bruno F. Moutinho]

Literatura da Guiné-Bissau

De todas as antigas colónias portuguesas, a Guiné-Bissau foi o país onde a literatura se desenvolveu mais tardiamente, devido ao atraso do aparecimento de condições sócio-culturais propícias para o efeito. Tal deveu-se ao facto de ser uma colónia de exploração e não de povoamento.
A literatura da Guiné pode ser dividida em quatro fases distintas. Temos a fase anterior a 1945, com a presença de autores marcados pelo cunho colonial. Neste período destaca-se o Cónego Marcelino Marques de Barros, ao qual se deve a recolha e a tradução de contos e canções guineenses. A segunda fase decorre entre 1945 e 1970, onde podemos observar uma poesia de combate, que denuncia a dominação, a miséria e o sofrimento, incitando a luta pela libertação. É neste período que surgem os primeiros poetas guineenses, como Vasco Cabral e António Baticã Ferreira. Dos anos 70 aos anos 80, temos uma literatura exclusivamente poética, fazendo a transição para a poesia intimista. É abordado o tema da identidade através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional. Embora o recurso ao crioulo seja marginal, os autores afirmam-se como cidadãos africanos. Desta fase destacam-se autores como Francisco Conduto de Pina que, em 1978, publicou o seu primeiro livro de poemas “Grandessa di nô tchon” e Hélder Proença que publica, em 1982, “Não posso adiar a palavra”, com duas obras poéticas. A quarta fase, que surge a partir da década de 90, é marcada por uma poesia mais intimista. Nesta, o crioulo torna-se mais frequente, quer pela escrita quer pelos termos e expressões em textos em português. Temos publicações diversas, tais como “O Eco do Pranto”, de Tony Tcheca (1992); “O Silêncio das gaivotas”, segundo livro de poemas de Francisco Conduto Pina (1996); “Entre o Ser e o Amar”, uma recolha bilingue português-crioulo de poemas de Odete Semedo (1996) e “Um Cabaz de Amores – Une corbeille d’amours”, recolha bilingue português-francês de poemas de Carlos Edmilson Vieira (1998).
A prosa aparece, apenas, em 1993 na literatura contemporânea bissau-guineense. Foi Domingas Sami que inaugurou este estilo com uma recolha de contos (“A Escola”) sobre a condição feminina na sociedade nacional. O primeiro romance de Abdulai Silá surge em 1994 (“Eterna paixão”). Em 1998 surge Filinto Barros com o seu primeiro romance, “Kikia Matcho”, que mergulha o leitor no mundo mágico e místico africano. Em 1999, Filomena Embaló publica “Tiara”, que levanta o véu do delicado tema da integração familiar e social no seio da própria sociedade africana. Carlos Edmilson Vieira, em 2000, edita “Contos de N’Nori”, uma recolha de contos que evocam lendas e costumes populares, recordações de brincadeiras da juventude e as vicissitudes sociais e políticas da sociedade guineense.
Constata-se que a literatura contemporânea bissau-guineense, nas suas diversas formas, tem uma constante: pela pluma dos seus escritores, ela retrata as desilusões, os medos e as aspirações da população perante a situação política, social e económica que prevalece no país”.
[Bruno F. Moutinho]
[nota: itálicos de Filomena Embaló]
Literatura de Cabo Verde

Em oposição às outras colónias não houve, em Cabo Verde, uma verdadeira literatura colonial. A maioria dos cabo-verdianos emigraram para Portugal, e foi em Lisboa que muitos se tornaram escritores.
A partir da segunda metade do século XIX, a colonização, já havia adquirido, no Arquipélago, uma feição própria. A pouco e pouco, a posse da terra e postos da Administração, transitavam para as mãos de uma burguesia cabo-verdiana.
Consideram-se a autêntica literatura cabo-verdiana aquela que reflecte o real cabo-verdiano.
Com a independência surge uma “nova” literatura formada por um profundo sentimento nacional que há-de alimentar-se nas raízes da longa história do processo social e político de Cabo Verde.
Toda a sua história torna, a literatura cabo-verdiana, das mais ricas da África Lusófona. Desta destacam-se os poetas: Sérgio Frusoni, Eugénio Tavares, B.Léza, João Cleofas Martins, Ovídio Martins, Jorge Barbosa, Corsino António Fortes, Baltasar Lopes da Silva, José Lopes, Pedro Cardoso, Manuel Lopes, António Nunes, Aguinaldo Fonseca, Teobaldo Virgínio, Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Onésimo Silveira, João Vário, Oswaldo Osório, Arménio Vieira, Vadinho Velhinho, José Luís Tavares, Vera Duarte, Gabriel Mariano e Amilcar Cabral; os escritores: Manuel Lopes, Germano de Almeida, Luís Romano de Madeira Melo, Orlanda Amarilis, Jorge Vera Cruz Barbosa, Pedro Cardoso, José Lopes, Mário José Domingues, Daniel Filipe, Mário Alberto Fonseca de Almeida, Corsino António Fortes, Arnaldo Carlos de Vasconcelos França, António Aurélio Gonçalves, Aguinaldo Brito Fonseca, Ovídio de Sousa Martins, Henrique Teixeira de Sousa, Osvaldo Osório, Dulce Almada Duarte, Filinto Elísio e Manuel Veiga; e as obras literárias: “Chiquinho”, de Baltasar Lopes da Silva; “Os Flagelados do Vente Leste, Chuva Braba”, de Manuel Lopes; “O Testamento do Senhor Napomuceno da Silva Araújo”, de Germano de Almeida; revista Claridade, e “Hora di Bai”, de Manuel Ferreira de grande prestígio e celebridade.
[Bruno F. Moutinho]

4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo vosso trabalho. Muito interessante quer pelos conteúdos quer pela forma como aborda as diferentes culturas. Os meus sinceros parabéns e votos de sucesso neste e noutros projectos!

Anónimo disse...

Parabens pelo enfoque claro e objetivo sobre Literatura Africana, visto que são poucos os documentários encontrados, sendo asim a análise contribuiu positivamente no meu estudo acadêmico e pessoalmente como brasileira originada de correntes africanas.

Anónimo disse...

gostei imenso do vosso trabalho, e aprendi muito sobre a literatura angolana e outras espero que continuem a digitar os vossos conteudos mais vezes na net

Unknown disse...

Cuidado com plagiadores. "Carmen Mateus" é plagiadora e teve seu antigo blog desfeito. Copia e publica e tenta vender livro com versos plagiados. Está em Angola a tentar fazer representar empresários. Pode conferir em http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt/269115.html e em:
http://contraplagio.blogspot.com.br/2013/05/sentydus-no-blog-httppoemasdeamoredor.html
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